Dor crônica e alimentação, podem estar relacionadas? Sim, a alimentação pode influenciar na sua dor crônica. Nós, médicos, não costumamos dar muita atenção para alimentação. Nutrição não é algo que faz parte dos currículos nas faculdades de medicina. Isso é surpreendente e incompreensível. Enquanto diversos tipos de alimentos podem prevenir e reverter algumas doenças, a gente aprende a prescrever medicações, mas não aprende prescrever alimentos. Os médicos não se preocupam em dar muitos detalhes sobre isso, no melhor das hipóteses mandam para o nutricionista.
Obesidade e dor crônica
Uma relação bem direta entre dor e dieta percebe-se na maior prevalência de dor nos pacientes com sobrepeso e obesidade. A obesidade leva a uma maior sobrecarga sobre as articulações como joelho, quadril e coluna e pode, portanto, levar à dor. Além disso, há estudos investigando tipos específicos de nutrientes e sua relação com diversos tipos de dor. O que comemos influencia nos marcadores de inflamação que circulam no sangue. A dieta é um fator a ser considerado em muitas doenças crônicas. Por que, portanto, a maioria não se preocupa com ela nos paciente com dor crônica?
O que a literatura científica diz sobre isso
Recentemente um estudo fez uma investigação sobre os vários trabalhos científicos que já investigaram esse assunto. Um estudo desse tipo é chamado meta-análise ou revisão sistemática. Interessante notar que não há tantos estudos bem feitos nessa área. Já no caso de medicações, existem milhares. Estranho não? Essa revisão sistemática citada acima, ao invés de investigar quais nutrientes são os mais efetivos, investigou padrões de dieta. A justificativa é que os nutrientes são ingeridos em conjunto em certas dietas, e não é tão prático avaliar apenas nutrientes isolados (selênio, magnésio, por exemplo).
Mas vamos aos resultados. Quais são os padrões de dietas que estão associados à dor ou ao alívio da dor? Uma notícia não tão animadora para quem adora carne vermelha. As dietas veganas e vegetarianas são as que apresentam a maior associação com a melhora da dor crônica. A maioria dos estudos investigou essas dietas à base de plantas. Essas dietas são comprovadamente “anti-inflamatórias”. A inflamação é um dor mecanismos que perpetua a dor crônica.
Dieta pode afetar a inflamação no corpo?
A inflamação é uma espécie de defesa do nosso corpo, assim como a febre. No início a inflamação é necessária para cicatrizar uma ferida, por exemplo. No entanto, no longo prazo, quando os marcadores inflamatórios persistem por um tempo além da cicatrização, eles acabam gerando uma maior sensibilização da região afetada. E, SIM, mudanças na dieta podem influenciar nisso.
Um exemplo bem comum disso é na dor muscular (miofascial). Tomemos como exemplo, uma dor muscular na região do pescoço, na coluna cervical, trapézio. Esse tipo de dor miofascial acaba gerando alguns pontos dolorosos. Esses pontos a gente pode palpar como pequenas “nós” dolorosos no músculo. Na dor miofascial a inflamação ocorre não apenas localmente como também em outras regiões. Quando a gente palpa esses pontos dolorosos acaba sentindo dor até no braço ou nos ombros, devido a essa inflamação “à distância”. Portanto, partimos de uma dor localizada mas acabamos com uma dor generalizada em toda a região da coluna, que se estende para os braços. Esse tipo de inflamação não está nos protegendo de nada, apenas piorando a situação.
O que devo comer?
Mas então todo paciente com dor crônica deveria se vegano ou vegetariano? Não. Pode até ser, se quiser e essa for uma opção viável, ótimo. Mas o principal é aprendermos algumas lições. A dieta à base de plantas (e isso inclui verduras, sementes, raizes, frutas) nos dá uma dica de algumas mudanças que podem ser fundamental no controle da dor crônica. Portanto, é uma dieta pobre em gordura, açúcar e proteína.
Atenção: a lição é que não é preciso parar de comer carne. Entretanto, talvez seja interessante prestar atenção nesses outros tipos de nutrientes e adequar a nossa alimentação para que fique mais saudável. Isso inclui diminuir a nossa ingesta de proteínas, gorduras e carboidratos em excesso.
Por que devo mudar?
Essa atenção na dieta vai afetar não apenas a dor crônica mas também a saúde e o bem-estar como um todo. Portanto, não vejo motivos para não começar a pensar nisso. Para quem quiser ler um livro bem interessante recomendo o livro “Comer para não morrer” do médico Michael Greger. Para ler mais veja o site do próprio Dr. Greger, aqui.
Futuro
Resumindo, ainda há muito a se estudar sobre a alimentação e dor crônica. Entretanto, isso não atrai tantas pesquisas. Mas há muitos hábitos já consolidados que podem ajudar. E esse tipo de tratamento é muito mais barato e prazeroso do que pílulas. Pergunte ao seu médico sobre isso. E não hesite em consultar com um nutricionista ou nutrólogo para ter uma dieta mais saúdável. Você pode poupar muito dinheiro em medicações, além de muitos anos de vida.