A dor paciente com câncer é também chamada de “dor oncológica”. Esse tipo de dor normalmente é uma condição de dor crônica.
Apenas para ilustrar, cerca de 75–90 % dos pacientes com câncer avançado apresentam dor importante. Além disso, aproximadamente 43% dos pacientes com dor oncológica recebem um tratamento insuficiente. A dor está associada a um pior resultado no tratamento do câncer. Sendo assim, o controle otimizado da dor pode aumentar não apenas a qualidade mas também o tempo de vida do paciente.
Antes de mais nada, dor oncológica é um termo amplo. Na verdade, existem várias causas de dor no paciente com câncer. A dor pode ser decorrente do crescimento e infiltração do câncer. Também pode ser uma consequência de cirurgia ou biópsia. Além disso, pode ser um efeito colateral do tratamento (ex. dor após quimioterapia ou radioterapia). Da mesma forma que, por causa da fraqueza geral do paciente, pelo fator de estar acamado, também ocorrem outras patologias e dores crônicas. (ex. Herpes Zoster, dor muscular)
Dor crônica vs dor oncológica
Em uma pessoa que não tem câncer, a dor crônica é uma sensação desagradável, causa muito incômodo e prejudica a qualidade de vida. No entanto, no paciente com câncer normalmente há um componente ainda maior de sofrimento, relacionado à própria doença, ao tratamento e a confrontação com a doença e a finitude da vida. Leia mais sobre os componentes afetivos da dor crônica aqui e aqui.
Tratamento para dor oncológica
Nenhum paciente deve considerar normal e aceitar a dor. Existem tratamentos e, como citado anteriormente, muitas vezes o tratamento fica aquém do possível. Para início de conversa sobre tratamento, é importante mencionar que nenhum tratamento sozinho é totalmente efetivo no controle da dor. Sendo assim, o tratamento da dor oncológica sempre tem que ser multidisciplinar. Multidisciplinar significa envolver múltiplas áreas como a psicologia, fisioterapia, enfermagem, oncologista e especialista em dor.
A morfina e os derivados da morfina são as principais medicações que os pacientes com dor oncológica usam. Entre os derivados da morfina podemos citar tramadol, codeína, metadona, buprenorfina, fentanil. Pode-se administrar essas medicações tanto pela via oral quanto por via transdérmica (adesivos) ou endovenosa.
Além disso, há outras medicações para usar de acordo com as necessidades de cada paciente. Portanto, se há uma dor importante por acometimento do osso, por exemplo, os antiinflamatórios ou os bisfosfonados são úteis. No entanto, se a dor é de origem nos nervos, os antidepressivos, anticonvulstivantes ou o adesivo de lidocaína ajudam mais.
Quando está indicado um tratamento intervencionista para tratar dor?
A intervenção ajuda em uma pequena parcela dos pacientes nos quais a dor oncológica é de difícil controle, não resolve com medicação. E, principalmente, quando há um alvo muito preciso para se tratar com cirurgia ou uma infiltração. No entanto, o “timing” é importante. Nunca é tarde para se fazer um tratamento mais invasivo para dor. Há, no entanto, uma hora certa. Não se pode esperar muito tempo para agir em certos casos. O mais importante é procurar um especialista em dor logo, conversar com o seu oncologista sobre isso.
Quais são os tratamentos chamados intervencionistas?
Existem diversos tipos de tratamentos mais invasivos para dor oncológica. Há os bloqueios (infiltrações) com agulhas nos quais se injeta anestésico para aliviar a dor. Há também os procedimentos “ablativos” nos quais se injeta álcool ou fenol. Eles causam uma lesão em determinados nervos, aliviando assim a dor.
Um tratamento muito útil é o implante de bomba de morfina (clique aqui e veja mais sobre isso nesse texto). Em síntese, é um tratamento muito eficaz, com poucas complicações, e no qual há a possibilidade de se fazer um teste antes da cirurgia. Além disso, há cirurgias mais invasivas como a cordotomia, hipofisectomia, realizadas em pacientes em um estágio mais avançado da doença.
Alguns dados desse texto foram retirados desse artigo científico aqui (clique para acessar o artigo em inglês).
Nunca é demais relembrar: O tratamento com cirurgia ou procedimentos nunca funcionará sozinho. Sendo assim, é importante ter uma equipe multidisciplinar no tratamento. Converse com o oncologista, converse com um especialista em dor.