Expectativas de melhora da dor crônica
Sempre procuro entender as expectativas de melhora da dor crônica do paciente ao iniciar um tratamento. Mas, o que é expectativa? É a impressão do paciente sobre qual será o resultado de um atendimento ou tratamento. Portanto, logo no início da relação com o paciente já estou procurando entender isso. Para cada paciente, varia muito essa impressão de como será o resultado. O que determina a expectativa do paciente geralmente é o contexto social no qual ele está inserido, experiência com profissionais pelos quais passou anteriormente, personalidade, nível de stress e também o nível de dor. Por isso, é dever do médico e profissional da saúde ajustar essa expectativa à realidade.
O que vejo na prática
Alguns pacientes que chegam otimistas. Eles coletam informações de outros pacientes, médicos ou da internet e têm a sensação de que finalmente encontrou o profissional correto. Por outro lado, alguns pacientes chegam com uma expectativa mínima. “Já foi feito tudo que tinha para fazer e não melhoro” ou “acho que não adianta tentar mais nenhuma medicação”. Certa vez um paciente com dor crônica nas pernas após uma lesão medular confessou para minha secretária: “se houver a possibilidade de amputar as pernas para parar de sentir dor, eu aceito, pois nada mais funciona”. Naquele momento pude entender o tamanho da dor daquele paciente.
A expectativa influencia no tratamento?
Esse estudo, publicado numa das revistas internacionais mais importantes em dor, avaliou mais de 2000 pacientes com dor crônica e suas expectativas antes do tratamento. Os pesquisadores notaram que os resultados foram melhores naqueles pacientes que esperavam um resultado positivo. Como resultado do tratamento foi utilizado melhora da dor, sintomas depressivos e tendência à catastrofização da dor (leia esse outro texto para entender mais sobre catastrofização). Os pacientes que tinham uma expectativa positiva antes do tratamento foram os que mais melhoraram.
Ajustando a expectativa à realidade
É necessária uma conversa franca entre o médico e o paciente antes de iniciar o tratamento. Quando se trata de dor crônica, não existe algo como um botão que liga/desliga a dor. Um tratamento que alivie pelo menos 60% da dor é considerado efetivo. Então é necessário essa conversa sincera para não haver nem expectativas muito altas, nem muito baixas. Também é preciso entender que mesmo nos pacientes que encontram um tratamento efetivo ainda pode haver alguns escapes de dor durante o tratamento. Isso não é uma falha do médico ou do tratamento. Criar uma expectativa não realística e superestimada apenas, não vai fazer o paciente melhorar. Talvez possa funcionar por alguns momentos, mas logo a dor retorna.
O médico e o paciente têm que iniciar uma relação esclarecendo os problemas que têm que resolver. Começar, por exemplo, definindo qual a causa da dor, quais serão os passos do tratamento. Geralmente o passo inicial envolve um ajuste na medicação. Algumas vezes também podemos usar bloqueios (infiltrações) para ajudar a entender melhor de onde se origina a dor. Além disso, um plano deve ser feito desde os primeiros passos, como será feito o acompanhamento e cada etapa do tratamento. Assim como em qualquer jornada, é natural querer saber de onde se está partindo e aonde se está querendo chegar, e as estações e paradas nessa jornada. Para isso, a relação médico-paciente é fundamental. Portanto, converse com seu médico, tire todas as dúvidas, se se sentir inseguro, procure uma segunda opinião. Entender o seu problema e ajustar a sua expectativa à realidade é o caminho para melhorar.