Quem tem dor crônica relata que não se esquece da dor durante nenhum momento. Já escutei pacientes referirem-se à dor crônica como a “dor normal”, para diferenciar de outros tipos de dores. Esse tipo de dor “normal” está sempre lá. Além disso, há alguns episódios descritos como “escapes” de dor, com um aumento de intensidade e muito mais intenso e incapacitante do que o habitual. Existe inclusive um termo em inglês para isso: “breakthrough pain”. Mas esse será um tema para outro artigo. O objetivo desse artigo é compartilhar um conceito interessante e muito pesquisado no meio científico: a “catastrofização da dor”.
É normal sentir-se preocupado e chateado com a dor crônica. No entanto, se o foco da atenção na dor é constante e o paciente está sempre pensando no pior dos cenários, ele pode estar “catastrofizando” a dor. É como se, sem perceber, você ficasse andando em círculos em uma estrada ou um circuito, aonde você vê apenas sofrimento. E toda vez que você conecta e vive esse “circuito” de dor você está ensinado ao seu cérebro esse caminho. E, acredite, devido à neuroplasticidade o cérebro aprende rápido e passa constantemente “voltar” lá mais vezes. Cada vez que você retorna por esse caminho ele recria e sedimenta mais essa experiência desagradável.
Os estudos dividem a catastrofização da dor em 3 componentes:
Ruminação: o paciente não consegue sair desse circuito de ficar constantemente pensando na dor, de como ela machuca e incomoda.
Magnificação: Ele antecipa a dor e a possibilidade de piora da dor e do seu estado de saúde e fica imaginando toda a incapacidade que pode adquirir.
Desesperança: há a impressão que se perde o controle da dor, que nada mais pode ser feito.
Como já mencionado, esse fenômeno de catastrofização é documentado em estudos científicos. Já está provado que ele é responsável por grande parte da oscilação da intensidade dor. A catastrofização aumenta o stress, cria medo, e o pior: o cérebro aprende e se sensibiliza, produzindo assim uma sensação de dor recorrente. Além disso, a saúde mental piora, a ansiedade, assim como a irritabilidade, aumentam.
Mas todos os pacientes com dor crônica sofrem com isso? Não, além de uma predisposição genética, parece haver uma maior chance do fenômeno de catastrofização ocorrer em mulheres. A personalidade também certamente afeta como o paciente vai lidar com a dor de uma maneira geral. A boa notícia é que existem maneiras de lidar com isso.
Certamente o sucesso do tratamento da dor certamente passa por entender esse fenômeno. Alguns tipos de terapia que reduzem ansiedade e stress podem ajudar. O maior número de evidência no tratamento da dor são com 2 tipo de terapia: terapia cognitivo comportamental e a terapia de aceitação e compromisso. Também vale citar aqui a técnica mindfulness de meditação. Mas isso já é assunto para outro dia. Esse artigo fica por aqui. Se você sofre de dor crônica, experimente estar mais atento ao processo de catastrofização da dor. Procure ajuda. Envie sugestões e opiniões para contato@leonardofrizon.com.br.