O Que é Dor Crônica
Algumas vezes escuto: “Dr., eu tenho medo que a minha dor fique crônica”. De uma certa maneira, acho esse raciocínio correto. Quando a dor é persistente é muito mais difícil de tratá-la. Entre outros fatores, a dor persistente traz junto não apenas o sofrimento físico, mas também o sofrimento emocional.
Diferenças entre dor aguda e crônica
Existem diversas classificações de dor. O objetivo dessas classificações é criar categorias, para os médicos e profissionais da saúde falarem a mesma língua. Entre as classificações, podemos classificá-la de acordo com a duração em 2 tipos: crônica e aguda. A dor aguda é aquela que sentimos ao pisar em um prego, por exemplo. Ou quando ocorre uma queimadura. Ela dura relativamente pouco tempo, pode ser muito intensa e limitante. A dor passa a ser crônica quando dura mais do que 3 meses. Se você sofre há mais de 3 meses, você tem dor crônica de acordo com a classificação médica. Mas tenha calma, isso não sinônimo de doença incurável ou que não tenha tratamento.
Depressão, irritabilidade e ansiedade frequentemente andam juntas com a dor persistente. Isso não acontece por acaso. Há evidência científica de que a dor também interfere no cérebro em áreas relacionadas com o afeto e a emoção. Leia mais informações sobre isso no final desse outro texto clicando aqui. Por isso, não devemos confundir e achar que a única causa de determinada dor é a ansiedade. A ansiedade, humor deprimido fazem parte da doença e também devem ser tratados.
As diferenças no tratamento
A dor aguda é mais simples de tratar, mas nem sempre é fácil. Pode requerer altas doses de medicação, muitas vezes há a necessidade de internação hospitalar. No entanto, quando se torna crônica é muito diferente, em todos os sentidos. O objetivo aqui não é uma descrição científica, por isso vou falar de uma maneira bem simples. Se imaginarmos que os nossos nervos são fios condutores de informação, esses dois tipos de dor não passam pelo mesmo fio. São dois sistemas separados.
Além disso, a dor crônica atinge o cérebro de uma maneira muito mais ampla, age por diferentes mecanismos. Ela deixa de ser apenas uma sensação, passa a ser também um sentimento. Agora não é apenas uma sensação desagradável, ocorre também alterações no humor, no sono, causando, entre outras coisas, ansiedade e angústia. Ao entendermos isso, fica mais fácil compreender por que cada um interpreta e reage de uma maneira.
Entender que a dor crônica é algo muito mais amplo do que apenas a sensação também facilita a compreensão de que o tratamento deve ser multidisciplinar. O médico não trabalha sozinho. É necessária a ajuda de uma equipe multidisciplinar: enfermagem, fisioterapia, psicologia, terapia ocupacional.
As medicações usadas para dor crônica também agem de maneira diferente, por agir em outro sistema. Algumas medicações funcionam apenas para a dor crônica e não funcionam para a aguda. Para essas medicações os efeitos não são imediatos. Os efeitos começam a ficar mais evidentes 3-4 semanas após o início do tratamento.
Para finalizar, eu entendo e tenho empatia quando escuto dos pacientes “não quero que a minha dor fique crônica”. Realmente, quanto mais tempo, mais difícil é de tratá-la. Então, não subestime, trate-a.